Concordo com André Comte-Sponville:
“Não é a ignorância do que somos, mas, ao contrário, conhecimento, ou reconhecimento de tudo o que não somos”. É a admissão de que cheguei onde estou sem gabar-me, acompanho Dwight Moody: “O homem pode demonstrar um falso amor, uma falsa fé, uma falsa esperança e outras graças, mas jamais poderá simular humildade”. Também concordo com Stanley Jones: “... primeiro passo para encontrar a Deus é destruir nosso orgulho”.
Spinoza dizia que “a humildade é uma tristeza nascida do fato de o homem considerar sua impotência ou sua fraqueza”. Nietzsche : “Conheço-me demais para me glorificar do que quer que seja”. E Comte-Sponville conclui: “O que é mais ridículo do que bancar o super-homem?... A humildade é o ateísmo na primeira pessoa: o homem humilde é ateu de si, como o não-crente o é de Deus”
Frase do Ricardo: “O pretensioso é inflexível, impaciente e estúpido. O humilde recua, na recusa de exercer força, poder e violência...”
Hans Küng afirmou que caso os teólogos e filósofos queiram dialogar com a ciência natural, será necessário modéstia e autocrítica. Pois “muitos cientistas já chegaram a reconhecer que não podem oferecer verdades definitivas”
O teólogo espanhol, Andrés Torres Queiruga propõe que a teologia abra um diálogo até com os ateus:
O ateísmo, em sua negatividade, pode ser um grande ensejo para a fé;quem sabe os cristãos, assumindo a crítica atéia, compreendam que Deus é sempre muito maior. – “Deus sempre maior” – do que as idéias que nós fazemos dele. A crítica dos ateus pode ajudar-nos a romper os esquemas em que tantas vezes encadeamos e deformamos a idéia de Deus dialogar com a ciência natural, será necessária modéstia e autocrítica.
Se Deus é bom, como eu acredito, os modelos teístas da teologia clássica se mostram inadequados. Não é possível que na distribuição dos castigos, a ira divina sempre comece pelos pobres. Para mim, as razões que tentam desatar o nó da teodicéia, empacam. O choro de crianças agonizando em clínicas imundas, as valas rasas que sepultam multidões, os campos de refugiados das Nações Unidas esbofeteiam os teóricos da religião. (fonte: Ricardo Gondim)
Capitulo do Gêneses
Carlos Drumond de Andrade
- E o Senhor, vendo que os homens não melhoravam, antes se tornavam piores, decidiu mandar-lhes uma chuva de advertência; e com isso lhes manifestava seu enfado, e que outro dilúvio não estaria fora de suas cogitações,
2. E a chuva começou a cair, a princípio alegre com seu destino de chuva; insistente, depois, e zangada, fazendo aluir a morada dos homens.
3. E os caminhos se encheram de lama, e na lama passavam cadáveres de criancinhas com suas bonecas; e também boiavam corpos de velhos e de moços na eflorescência do amor.
4. E as águas cumpriram seu serviço e se retiraram ao campo de um dia; e quedou sobre a Terra uma dor feita de mil dores.
5. Nisso vieram os sábios da cidade e puseram-se a fazer a exegese da catástrofe; e concluíram que todo o mal provinha de certas povoações altaneiras, desligadas do corpo social, a que se dava o nome de favelas.
6. As quais, dependuradas na crista e no declive dos morros, vertiam sobre a cidade, com algumas notas de músicas, seus detritos e sua miséria, travando o escoamento das águas.
7. E individualmente se chamavam Querosene, Escondidinho, Pasmado, Martelo, Pretos Forros, Cabrito, Vintém, Cantagalo, Curras das Éguas, Nheco, Borel, Esqueleto, Catacumba e apelativos que tais.
8. E mereciam ser destruídas; pelo que se escolheu a Favela da Catacumba, de nome exemplar, para ser arrasada primeiro que as outras, e das outras a hora soaria a seu tempo.
9. E milicianos, na calada da noite, subiram até lá e arrasaram-na, ateando fogo aos escombros; e os sábios se persuadiram de que haviam acabado com a causa primeira da enchente.
10. Embora não houvesse acabado com a causa maior das favelas; e os favelados foram recolhidos a uma casa de boa-vontade, enquanto seus pertences tomavam rumo de uma praça de jogos, Maracanã chamada.
11. E havendo entre esses alguns tamboretes e cadeiras, bem podiam ser aproveitados para assento de amadores das grandes justas de atletas, que eram a glória da cidade.
12. E reinou sobre o morro um silêncio catacumbal, que nem a voz de um papagaio bicava.
13. E seus antigos moradores, depois de alguns dias na casa de asilo, subiram a outro morro ainda virgem e lá plantaram seus fogos e entoam sua música.
14. E outra vez choverá o aborrecimento de Deus, e eles serão responsabilizados, expulsos, apartados de seus bens, e descobrirão novos terrenos de cume, de onde voltarão a ser tangidos.
15. E milicianos em número crescente desalojarão ainda mais numerosos catacumbeiros.
16. A menos que o Senhor, em sua ira, se lembre de consumar a ameaça promova a magna chuva final.
17. Da qual ninguém escapará; e depois dessa ninguém será acusado e molestado por ninguém.
18. A menos ainda que, a poder de palavras e sutis manobras, os sábios consigam desviar a atenção do Senhor para outros mundos ainda mais errados que este.
Questão atéia
"Mas, padre, o sujeito passa a vida puro e sério. No último dia, antes de morrer, falta uma missa. Vai para o inferno? 'Por toda eternidaaaaade... ', ecoava o bom padre Barros, implacável. E aí surgia a pergunta agnóstica que acabava com a fé dos garotos: 'Deus é infinitamente bom?', perguntávamos. 'Sim, infinitamente'. 'Ele sabe tudo que vai acontecer?' 'Sim... ', respondia o padre, já desconfiado. 'Então, se ele sabe que fulano vai pecar e vai para o inferno, por que ele cria o cara?' Nenhum padre me respondeu essa questão atéia, até hoje". (Arnaldo Jabor em "Sanduiches de Realidade" - Editora Objetiva - Rio de Janeiro - 1997 - página 15).
Segundo o Wikipédia,
"A fábula é uma narrativa alegórica cujos personagens são geralmente animais e cujo desenlace reflete uma lição moral. A temática é variada e contempla tópicos como a vitória da fraqueza sobre a força, da bondade sobre a astúcia e a derrota de presunçosos."
Passemos à narrativa:
Era uma vez um escorpião desejoso de praticar o bem. Como não era bem visto pela comunidade local, resolveu ir viver do outro lado do rio. Lá, poderia exercitar seu altrísmo sem desconfianças.
Mas ele não sabia nadar e precisava atravessar de uma margem para a outra. E sua espécie ainda não havia acumulado o conhecimento náutico suficiente para construir um barco viável para fazer a travessia.
Então resolve pe